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sábado, 11 de maio de 2013

11/05–Em busca do “El dorado” no sourcing–Parte 2

A indústria têxtil e vestuário africana poderá beneficiar-se de uma eventual desaceleração nas exportações chinesas, mas apenas se for implementada no país uma vasta gama de reformas. Salários mais baixos e matérias-primas mais baratas são alguns dos trunfos em mão.

África no mapa do sourcing – Parte 1

Os oradores presentes no Source Africa no início de Abril acreditam que, se as dificuldades sentidas atualmente pela indústria têxtil e vestuário no continente africano forem superadas, então as empresas poderão prosperar.

Roy Ashurst, um comprador senior para a norte-americana PVH Corporation, revelou aos delegados que o valor anual das exportações chinesas de têxteis e vestuário deverá cair dos 250 para os 200 bilhões de dólares nos próximos anos. “Esta é uma oportunidade de 50 bilhões de dólares que as empresas africanas poderão aproveitar. Os salários em África são agora mais baixos e as matérias-primas mais baratas do que em qualquer outro lugar do mundo, por isso acho que chegamos a um ponto que poderá levar a uma revitalização da indústria no continente”, explicou Ashurst.

Thomas Farole, especialista senior em comércio no Banco Mundial, concordou, salientando o aumento dos custos chineses. “O salário mínimo na China duplicou nos últimos cinco anos, de modo que neste ponto a África tem uma grande vantagem em relação ao maior produtor de têxteis e vestuário do mundo. À medida que os salários chineses aumentam, o país irá cortar 85 milhões de postos de trabalho (em todos os setores)”, justificou Farole. O responsável acrescentou que a relativa proximidade da África em relação à Europa e aos EUA também poderá ajudar. “Existe também uma mudança nas empresas no sentido do regresso às redes regionais para aquisição de suas necessidades. Os compradores nos EUA e na UE não querem esperar quatro semanas para obter estoques e os produtores chineses têm dificuldade em responder rapidamente às encomendas”, acrescentou Farole.

Mas a África ainda terá de competir com países exportadores asiáticos, como: Indonésia, Vietnam e Bangladesh. Mesmo com acordos preferenciais de comércio, como o AGOA (African Growth & Opportunity Act), as empresas africanas têm lutado para competir ao nível local, regional e internacional.

Samuel Gayi, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), explicou que a indústria têxtil e vestuário de África continua a ser demasiado pulverizada para a economia global, prejudicando a competitividade. Atualmente as empresas de têxteis e vestuário trabalham em pequenas zonas economicas, com frágeis infra-estruturas de transporte e mercados laborais ineficientes. Além disso, as empresas têm de lidar com as elevadas taxas de inflação, a ameaça de instabilidade política e instituições frágeis. “A infraestrutura é a chave para aumentar o comércio em geral. As estradas pan-africanas poderão custar 32 bilhões de dólares, mas podem gerar 250 bilhões de dólares de comércio adicional ao longo de 15 anos. Existem planos para desenvolver estes corredores de transporte, mas necessitam ser implementados”, comentou Gayi.

Este investimento irá fomentar as exportações para fora do continente, mas também o comércio inter-África, que é ainda mais dificultado pelas inadequadas políticas nacionais de transportes, ambientes de negócios difíceis e fronteiras e procedimentos aduaneiros ineficientes.

As estatísticas do Banco Mundial mostram que nos últimos 20 anos a África Subsariana assegurou apenas 1% do comércio mundial de vestuário, com a China a recebendo uma participação de 41%.

Os dados da International Textile Manufacturers Federation (ITMF) confirmam: em 2011, a China permaneceu como o maior exportador de têxteis e vestuário do mundo e nenhum país africano apareceu nos 20 primeiros lugares. O melhor desempenho foi o do Egito, um produtor de algodão histórico, que exportou 3,5 bilhões de dólares. Como evidência adicional da estagnação da indústria na maior parte da região, a ITMF indicou que o investimento em tecnologia e competências, necessário para desenvolver a indústria de vestuário em África foi extremamente baixo ao longo dos últimos 10 anos.

Mas além das dificuldades existentes, ao nível tecnológico e infraestrutural, as empresas africanas de têxteis e vestuário têm ainda de enfrentar o fluxo de importações provenientes da Ásia.

Fonte: just-style.com

Tradução livre: Sandro F. Voltolini – Autor do Blog Textime